segunda-feira, 21 de junho de 2010

Para a eternidade

Para a eternidade

Ao ler o noticiário local do dia 17 de junho num dos nossos muitos portais na internet, vi-me transportado para o ano de 1985, quando iniciei o curso de Jornalismo na Universidade Federal de Alagoas. Vieram-me à lembrança os meus primeiros dias de aula e os primeiros professores.
Lembro que a turma estava dispersa quando chegou à sala de aula, no bloco João de Deus – na época, um dos mais novos do campus –, um senhor baixinho, calvo, exibindo vistosas suíças. Apresentou-se como Sebastião Grangeiro Neto, professor de Língua Portuguesa.
Logo no começo da aula soltou a frase que era sua marca registrada. “Entrei nesta casa pela porta larga da decência; não pulei a janela da imoralidade”, costumava dizer ele, para ressaltar que seu ingresso no corpo docente da Ufal havia sido por méritos próprios, ou seja, por concurso, no qual fora aprovado com nota dez.
Durante o semestre, em meio às noções de gramática, Grangeiro (assim mesmo, com “g”) nos brindou com outras frases marcantes. Também não há como esquecer sua costumeira explicação para justificar algum atraso – estava em palácio, em colóquio com o governador, de quem era assessor.
Depois daquele semestre, nunca mais tive contato com o professor. Agora leio a notícia sobre seu falecimento, o que me motivou a escrever este texto. Para muitos que tiveram a oportunidade de estudar com Grangeiro, ele vai ser lembrado mais pelas frases de efeito, pelo português castiço, pelo gestual, ou até por seu modo peculiar de tocar piano. Prefiro lembrar-me dele por seu vasto conhecimento da língua portuguesa e suas dicas valiosíssimas, que me são úteis até hoje. Para fechar, mais uma de suas frases típicas. Quando alguém demonstrava alguma admiração por seu conhecimento, ele dizia solenemente: “Meus filhos, eu não aprendi para hoje, aprendi para a eternidade!”. Descanse em paz, mestre!