sábado, 3 de julho de 2010

Emoções bissextas

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Emoções bissextas

Fábio Costa
Jornalista

Mais uma vez vamos acompanhar as partidas finais de uma Copa do Mundo sem a presença da Seleção Brasileira. Como aconteceu em 2006, despedimo-nos da competição nas quartas de final. Assim como não foi a primeira vez, também não será a última, nem foi a mais doída, pois desde o início havia um sentimento de desconfiança em relação à equipe comandada por Dunga, ou pelo menos de otimismo moderado.
Minha geração tem ainda viva na memória a derrota do Brasil para a Itália, na Copa de 82, no jogo que ficou conhecido como a “tragédia de Sarriá”, em referência ao estádio onde a partida foi disputada. Havia naquela Copa um clima de muita confiança em nossa seleção, aqui e alhures. Tínhamos craques como Júnior, Zico, Sócrates e Falcão, comandados por Telê Santana, um amante do futebol-arte.
Depois de um início nervoso, a seleção deslanchou e atropelou os primeiros adversários, incluindo a Argentina e o jovem Diego Maradona. Tudo levava a crer que chegaria ao título. No meio do caminho, entretanto, havia uma Itália e seu bambino Paolo Rossi. Lembro-me de que não consegui assistir aos cinco minutos finais da partida. A ansiedade e a angústia me fizeram sair da sala. Fiquei, de longe, solitário, ouvindo a narração até soar o apito final.
Houve outras frustrações nas copas que acompanhei. Quatro anos antes, eu vira o Brasil passar para a fase seguinte jogando um futebol burocrático e sem graça. Muita teoria e pouco futebol. No final, fomos “campeões morais”.
Em 1986, até que tínhamos quase os mesmos craques da competição anterior e o mesmo técnico, mas já era um time envelhecido, e a preparação foi atrapalhada. Mais uma vez ficamos frustrados quando o Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis.
A Copa de 90 é para ser esquecida. Em 1994, ganhamos a Copa com uma seleção eficiente. Quatro anos depois, veio aquela situação até hoje mal-explicada envolvendo Ronaldo e levamos uma lapada da França na final. Em 2002, conquistamos o penta e na Copa seguinte tivemos uma seleção de estrelas sem brilho eliminada nas quartas de final.
Desempenho da Seleção Brasileira à parte, o que chama a atenção é o efeito que a realização de uma Copa do Mundo de Futebol provoca em nosso meio. Mesmo aquelas pessoas que dizem não se interessar por futebol se unem aos aficionados para acompanhar a competição. Parece haver algo contagiante que mexe com o inconsciente coletivo do brasileiro.
E esse clima diferente começa bem antes do início da competição. Este ano, por exemplo, parece ter sido retomada a febre dos álbuns de figurinhas dos jogadores. Confesso que, quando o álbum foi lançado, pensei em comprar, mas achei que estava meio velho para isso. Depois vi que estava enganado, pois constatei, surpreso, que a brincadeira contagiara pessoas de várias idades, incluindo cinquentões e sessentões. Mesmo assim, me contentei com meu álbum virtual.
A verdade é que o futebol parece ser um poderoso fator de mobilização. No papel de torcedor da Seleção, o mais excluído cidadão, o mais marginalizado, se sente um autêntico brasileiro. Bom seria se esse mesmo sentimento, essa mesma mobilização acometesse os brasileiros em outros aspectos da vida social.